Padrão contábil muda e pode influenciar o Brasil

IAS (International Accounting Standards) passa a incluir práticas modernas de mercado  

Jornal: O Estado de S.Paulo - Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2004

SILVIA FREGONI

O padrão contábil internacional (International Accounting Standards, IAS) passou por atualizações recentes, para incluir práticas mais modernas de mercado e aproximar-se das regras americanas. As mudanças do IAS devem influenciar as normas em vários países do mundo, inclusive no Brasil.
Uma das novidades é que as empresas que adotam o IAS não poderão mais ter a linha "itens extraordinários" nas demonstrações financeiras. O sócio do Departamento de Práticas Profissionais da auditoria KPMG, José Luiz Carvalho, disse que a existência dessa conta abria possibilidade para que as companhias jogassem aí qualquer efeito indesejado, mesmo que não fosse realmente inesperado.
Outra mudança é que as companhias terão de divulgar as premissas consideradas na contabilização de itens importantes do balanço, como no reconhecimento de ativos. Segundo Carvalho, essa regra é bastante abrangente. Ele explicou que uma empresa de petróleo, por exemplo, terá de dizer que critérios utilizou para reconhecer reservas e, se esses não estiverem de acordo com o padrão do mercado, a companhia pode se prejudicar.
O comitê responsável pelo IAS também decidiu nessa atualização, ocorrida em dezembro de 2003, eliminar a possibilidade de diferimento em caso de maxidesvalorização do câmbio - instrumento utilizado no Brasil. As companhias também serão obrigadas a discriminar nos balanços que atividades foram descontinuadas.
O sócio da Price na área Global Capital Markets Group, Ivan Clarck, disse que o mundo todo fica atento às mudanças do IAS porque até 2005 cerca de 90 países deverão adotar esse padrão. Ele acredita que há uma tendência de o Brasil também caminhar nessa direção. Além disso, até 2007 deve haver uma convergência entre esse procedimento contábil e o americano, o USGAAP.
Segundo o sócio da área de auditoria da Deloitte Edimar Facco, uma norma de grande importância do IAS que ainda deve provocar polêmica até ser atualizada é a que dispõe sobre os instrumentos financeiros. O comitê do IAS quer exigir que as empresas com operações de derivativos para proteger dívidas joguem no resultado os ganhos ou perdas não realizados, ou seja, contabilizem os efeitos do hedge feitos para dívidas ainda não liquidadas.
Atualmente, isso não é reconhecido nas demonstrações e aparece, no máximo, em nota explicativa (no Brasil também é assim).