INDICADOR DE EXPECTATIVAS

Por Jaime de Carvalho Leite

Investidores , Empresários , Trabalhadores, Autoridades Governamentais têm demonstrado nos últimos meses muita apreensão devido ao Risco Brasil.

O “risco Brasil” pode ser entendido como o prêmio, o spread ou o adicional que o Brasil deve pagar a mais do que paga os Estados Unidos quando precisa emitir bônus para captação de recursos no exterior. Os títulos da dívida norte-americana são considerados de risco zero e quem investe nesses papéis não duvida do retorno integral do valor empregado. Por isso, aceita taxas de juros menores.

No caso do Brasil, país considerado “economicamente emergente”, sempre há dos investidores internacionais alguma desconfiança de que o País não conseguirá honrar os compromissos da imensa dívida externa. Essa expectativa leva eventuais doadores de recursos a exigir taxas de juros elevadas, para compensar o risco que entendem estar correndo.

As decisões desses eventuais doadores se baseiam em avaliações econômicas e de capacidade de solvência de países e empresas cuja situação econômico-financeira interessa aos investidores. Essas avaliações são feitas pelas chamadas agências de rating (classificação de riscos) e as mais atuantes e conhecidas são a Moody’s, a Standart & Poor’s e a Fitch. Mas são as avaliações do JPMorgan que trazem preocupação para o Brasil.

Métodos de avaliação - Os cálculos desenvolvidos por essas agências de rating se diferenciam pelos critérios de análise e pelo formato de apresentação de resultados. As agências efetuam as avaliações pelo método, digamos assim, fundamentalista e atribuem letras (notas) aos avaliados. No caso da Standard Poor’s, por exemplo, variam de AAA (a melhor) até D (a pior). Essas notas valem até que uma outra avaliação venha a substituí-las.

O JPMorgan, por sua vez, criou e calcula diariamente o indicador de “risco Brasil” - tecnicamente chamado de EMBI + Brasil. É um indicador que reflete apenas o movimento dos preços e os retornos a eles associados dos títulos brasileiros negociados no mercado financeiro internacional. Esse indicador, sub índice do EMBI+, segundo a assessoria do banco, não compreende qualquer juízo de valor do JPMorgan a respeito da situação econômico-financeira do país.

São três os indicadores criados pelo JPMorgan. O primeiro é o EMBI (Emerging Markets Bond Index - Índice de Títulos da Dívida de Mercados Emergentes), criado em 1992, que a partir de 31 de maio de 2002 passou a representar 11 países. O segundo, o EMBI+ , apresenta o retorno médio diário de títulos de dívida denominados em dólares dos EUA e cobre os títulos emitidos por 21 países. Ele é composto de sub índices de cada país participante. O último, o EMBI Global, é calculado da mesma forma que o EMBI+, mas com critério diferente na inclusão dos países.

Para fazer parte do EMBI+, a seleção de países tem como critério os ratings de crédito: um país precisa ter nota BBB + /Baa1 ou inferior para ser incluído no índice. Quanto aos títulos escolhidos, é necessário fazer parte de uma emissão mínima de US$ 500 milhões e ser negociado internacionalmente, por exemplo, por meio da Euroclear. O EMBI+ é calculado diariamente e divulgado no fim do dia (horário de Nova York) pelas agências Bloomberg e Reuters, fontes primárias de publicação do índice.

Cesta de títulos - Resumindo, os índices publicados pelo JPMorgan são calculados com base em uma cesta de títulos soberanos de um conjunto de países criteriosamente selecionados (Quadro 1). O sub índice EMBI + País é calculado da mesma forma, mas com base somente em títulos do país a que se refere (Quadro 2). Comparando a grosso modo, é como se fosse um índice Bovespa com base em bônus soberanos, e não em ações.

Para ilustrar, suponhamos que o C-Bond, numa data qualquer, com valor de face de US$ 100.00 e taxa de juro de 12% ao ano, estivesse sendo negociado no mercado a um preço de US$ 55.90. Digamos que na mesma data o governo norte americano estivesse pagando uma taxa de juro de 4,9% ao ano pela colocação do T-Bond. É bom lembrar que, embora o C-Bond esteja sendo negociado com deságio, a taxa de juro é a mesma e incide sobre o valor de face, proporcionando ao detentor rendimento de US$12.00 ao ano.

Uma aplicação de US$ 55.90 que rende US$12.00 está proporcionando taxa de retorno de 21,5% (12/55.9 x 100 = 21.47%). Ao descontarmos a taxa do T-Bond, 4,9%, apuramos um ágio ou spread de 16.57% ou 1.657 pontos base (16.57 x 100). Se a carteira de títulos do Brasil fosse composta só pelo C-Bond, esse seria o “risco Brasil” do dia.

Enfim, o “risco Brasil” calculado pelo JPMorgan reflete apenas uma expectativa, do ponto de vista do comprador de títulos brasileiros, sobre a economia do País. Tem pouco a ver com a economia real, presente. Expectativas podem se confirmar ou não e são criadas por fatos ou boatos domésticos e internacionais. Daí, a grande volatilidade do índice.

* Jaime de Carvalho Leite é administrador de empresas e ex-auditor do Banco Central

Material extraído da Revista Capitais - Edição de Setembro/Outubro - 2002

(A revista da ABAMEC / Centro Oeste - www.abamecco.com.br/revista.asp)          

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Matéria disponibilizada neste site em 30/09/2002