CAPÍTULO III
OS LIVROS CONTÁBEIS
Por João de Carvalho Leite
Até aqui vocês já viram que realmente sabem fazer contabilidade, só falta aprenderem a formaliza-la. Viram também que para a formalização das transações é necessário utilizarem a técnica do lançamento, que é o meio pelo qual registramos todos estes fatos nos livros próprios. Portanto, agora chegou a hora de falarmos um pouco sobre esses livros.
Para a escrituração da contabilidade é necessária a utilização de
dois livros:
Livro
Diário:
principal e obrigatório.
Livro
Razão:
apesar de ser tido como facultativo, é muito importante para o sistema contábil.
A Receita Federal exige esse livro das empresas cuja tributação do Imposto de
Renda seja com base no Lucro Real. O Livro Razão, na verdade, é mais conhecido
como Fichas “Razão”.
O Livro Diário, como o próprio nome expressa, é utilizado para
o registro diário, na seqüência, por ordem de acontecimento (ordem cronológica)
de todos os fatos que vierem a ocorrer na empresa. O fato a ressaltar é
que devido a sua escrituração ser efetuada pela ordem cronológica, embaralha
as contas, dificultando, com isso, o exame individualizado das mesmas.
Veja modelo a seguir:
DIÁRIO GERAL | ||||
Empresa: Comercial Jc.Leite Ltda. |
Mês: Janeiro/2001 |
Pág. 002 |
||
Conta debitada |
Conta creditada |
Dia |
Histórico |
Valor |
2.1.1.001.003 |
1.1.1.001.001 |
03 |
Pgto da Guia INSS 12/2000 |
272,00 |
1.1.1.001.001 |
3.1.1.001.001 |
05 |
Venda à vista conf NF 65 |
380,00 |
2.1.1.002.001 |
1.1.1.001.001 |
07 |
Pgto Assist Contábil 12/00 |
130,00 |
2.1.1.002.002 |
1.1.1.001.001 |
07 |
Pgto Pro-Labore mês 12/00 |
1.230,00 |
1.1.1.001.001 |
3.1.1.001.001 |
08 |
Venda à vista conf NF 66 |
1.700,00 |
1.1.1.001.001 |
3.1.1.001.001 |
09 |
Venda à vista conf NF 67 |
735,00 |
2.1.1.001.002 |
1.1.1.001.001 |
14 |
Pgto da Guia Cofins mês 12/00 |
283,03 |
1.1.1.001.001 |
3.1.1.001.001 |
14 |
Venda à vista conf NF 68 |
357,00 |
2.1.1.001.001 |
1.1.1.001.001 |
14 |
Pgto da Guia PIS mês 12/00 |
61,32 |
1.1.1.001.001 |
3.1.1.001.001 |
21 |
Venda à vista conf NF 69 |
7.889,00 |
111.001.001 |
3.1.1.001.001 |
24 |
Venda à vista conf NF 70 |
279,00 |
3.1.2.001.001 |
2.1.1.001.001 |
31 |
Vr PIS-Faturamento 01/01 |
73,71 |
3.1.2.001.002 |
2.1.1.001.002 |
31 |
Vr Cofins mês 01/01 |
340,20 |
3.1.2.001.003 |
2.1.1.001.003 |
31 |
Vr INSS mês 01/2001 |
272,00 |
3.3.1.001.003 |
1.1.1.001.001 |
31 |
Pgto Guia Contr. Sindical |
29,60 |
2.1.1.001.005 |
1.1.1.001.001 |
31 |
Pgto Guia Contr. Social 12/00 |
108,29 |
2.1.1.001.005 |
1.1.1.001.001 |
31 |
Pgto Guia IRPJ 12/00 |
871,33 |
3.3.1.001.001 |
2.1.1.002.002 |
31 |
Pro-Labore mês 01/01 |
1.230,00 |
3.3.1.001.002 |
2.1.1.002.001 |
31 |
Vr Assist. Contábil mês 01/01 |
130,00 |
O Livro Razão demonstra de forma
individualizada as Contas utilizadas no Livro Diário, vindo a facilitar, com
isso, o exame das mesmas, daí a sua importância já citada acima.
Veja modelo a seguir:
Empresa: Comercial Jc.Leite Ltda. |
Jan a Dez/2001 |
|||
RAZÃO ANALÍTICO |
Página. 01 |
|||
Conta: 3.1.1.001.001 - Vendas à vista |
||||
Data | Histórico | Débito | Crédito | Saldo |
05/01 |
Venda à vista conf NF 65 |
380,00 | 380,00 C | |
08/01 |
Venda à vista conf NF 66 |
1.700,00 | 2.080,00 C | |
09/01 |
Venda à vista conf NF 67 |
735,00 | 2.815,00 C | |
14/01 |
Venda à vista conf NF 68 |
357,00 | 3.172,00 C | |
21/01 |
Venda à vista conf NF 69 |
7.889,00 | 11.061,00 C | |
24/01 |
Venda à vista conf NF 70 |
279,00 | 11.340,00 C |
Vocês
puderam perceber claramente que para se fazer uma análise do que ocorreu com a
movimentação, por exemplo, da Conta: Vendas a Vista, no Livro Diário, seria
necessário verificar a escrituração dia a dia para poder compor tal movimentação.
Imagine o trabalho que daria em uma empresa com grande movimento.
Já no Livro Razão devido às contas serem individualizadas,
basta pegar a Conta desejada, no caso a Conta: Vendas a Vista, e analisar tranqüilamente
a movimentação.
Vocês
perceberam, ainda, que os lançamentos no Livro Diário trazem todas as Contas identificadas apenas por códigos. Para isso é necessária a
elaboração de um Plano de Contas, onde são elencadas todas as contas
previstas pelo Setor Contábil de uma empresa.
A
escrituração do Livro Diário tem um passado histórico, pois por muito
tempo foi escriturado com os lançamentos
efetuados a mão, é isso mesmo, à caneta. Os Contadores utilizavam-se das
famosas “canetas tinteiros” e faziam uma caligrafia impecável, linda, quase
que desenhada. Este tipo de
escrituração ainda era muito utilizado até o início dos anos 70.
Posteriormente
o Livro Diário passou a ser escriturado em máquina de datilografia comum, mas
com um adaptador, que permitia a escrituração do Livro Diário e
simultaneamente a do Livro Razão (Fichas Razão).
Poderia
surgir uma pergunta. Como que era escriturado um livro em uma máquina de
datilografia?
Na
verdade não era escriturado um livro e sim formulários específicos para
contabilidade adquiridos em papelarias. Estes formulários já vinham com um
carbono especial (copiativo) e
depois de datilografados, aproveitava-se apenas a segunda via que era copiada
para placas ou rolos de gelatina e destes seriam
re-copiados, vamos dizer assim, para os livros.
Não
entenderam?
Para
aqueles que ainda não entenderam, acho que agora vão entender.
Lembram-se daquelas figurinhas de gomas de mascar (chicletes) que a gente,
após molhar o dorso da mão
ou parte do braço com saliva, colocava a figurinha em cima para colar o
desenho. Então, a escrituração do Livro Diário era mais ou menos isso, primeiro você
datilografava o formulário com carbono especial, depois pegava a segunda via
deste formulário e copiava para placas de gelatinas, que eram antes umedecidas
com esponja d’água, e na seqüência essas placas eram utilizadas para
repassar a escrituração para as páginas do Livro. O serviço de
contabilidade, como vocês viram, era muito braçal.
O
Livro Diário era comprado em papelarias. Ele vinha com todas as páginas em
branco. Era necessário lavrar o Termo de Abertura na primeira página e o Termo
de Encerramento na última página para posteriormente levar ao Cartório de
Registro Civil para promover o devido registro. Somente após essas formalidades
é que o mesmo deveria ser escriturado pelo processo das gelatinas.
Este
processo, praticamente, foi encerrado em meados dos anos 80, quando então as máquinas
eletrônicas começaram a ganhar
mercado, facilitando com isso sua
aquisição pelas empresas e escritórios de contabilidade, diminuindo bastante
o trabalho braçal nos serviços contábeis. Na máquina eletrônica, à
medida que se
fazia o lançamento contábil a mesma já executava
as operações de adição e subtração e tinha ainda mais alguns
recursos, pois guardava os históricos do lançamento na memória, e com a
digitação dos códigos desses
históricos a mesma os datilografava automaticamente. Essa máquina
“aposentou” o sistema de gelatinas, pois os formulários que a máquina
eletrônica emitia iam sendo acumulados para no final do ano serem encadernados
formando, com isso, o Livro Diário. O registro deste livro no Cartório passou
a ter uma ressalva onde constava que o mesmo já se encontrava escriturado
anteriormente ao seu registro.
Esta
máquina eletrônica não teve vida muito longa, pois logo começou a proliferar
o uso do Micro Computador, aí sim, vindo facilitar de vez a vida do Contador.
Atualmente, neste mundo totalmente informatizado, o serviço
do contador, no que se refere a parte braçal da escrituração contábil diminuiu
consideravelmente. Pois hoje os Programas de Contabilidades estão interligados
com diversos outros programas existentes na empresa, tais como Faturamento,
Departamento Pessoal, etc. e na medida em que se executam os serviços nestes
demais setores, estes se comunicam com o programa de contabilidade fazendo com
que os lançamentos contábeis sejam efetuados automaticamente. Sobram poucos
lançamentos a serem efetuados manualmente pelos digitadores, e ainda assim, vários
já com códigos que pré definem os lançamentos, como por exemplo:
digita-se o código 01, e o programa sabe que é para debitar a Conta Banco
c/corrente e creditar a Conta Caixa.
Antigamente os auxiliares de escritório
aprendiam a fazer contabilidade trabalhando nas empresas e nos escritórios de
contabilidade, pois acompanhavam passo a passo todo o processo contábil,
e com o tempo iam para os Cursos Técnicos de Contabilidade ou para as
Faculdades de Ciências Contábeis apenas para aprender a teoria, mas na
verdade, a grande maioria, fazia o
curso visando mesmo era o Diploma, pois já sabia fazer contabilidade. Se antes
os serviços em empresas de contabilidade funcionavam como verdadeiras escolas,
acredito que hoje se consiga conhecer o processo contábil somente através da
leitura de bons livros e/ou cursos específicos.
Esta matéria foi disponibilizada, originalmente, em 30/06/2001
"Aprenda contabilidade fazendo contabilidade"