c apítulo ii

P O R Q U E   O R A   D E B I T A R   O R A   C R E D I T A R ?

            Por João de Carvalho Leite 

            Fico feliz em saber que vocês já estão vendo a tal contabilidade de uma forma mais amistosa.  Já estão até gostando, não é? 

            Então vamos continuar. 

            Vocês tiveram na introdução dos nossos trabalhos uma visão de como é uma contabilidade pessoal, pois aposto que muitos até montaram os seus balanços pessoais. Acertei?  Espero que a situação patrimonial de vocês esteja de boa para ótima. 

            Eu disse que a diferença da contabilidade individual para a contabilidade de uma empresa, está que na empresa, as transações (compras, vendas, pagamentos, recebimentos) tem que ser formais, ou seja, tem que ter  os lançamentos contábeis, as contas, os livros Razões e Diários. 

            Agora eu quero passar para vocês como é que a gente formaliza essas transações. A meu ver o iniciante em contabilidade, para que consiga entender com mais facilidade essa matéria, deve primeiramente saber porque é que se DEBITA isso e se CREDITA aquilo e o que é esse tal Método das Partidas Dobradas de que já ouviu falar ou então já viu nos livros de contabilidade, mas não conseguiu entender direito. 

            Calma gente. Não se assustem, pois verão novamente que é tudo MUITO SIMPLES.  

Vamos trazer de volta aquele Balanço que nós apuramos em 30/04/2001, já com o patrimônio líquido apurado.

BALANÇO APURADO EM 30/04/2001

ATIVO (positivo - coisas boas)

PASSIVO (negativo - coisas ruins)

Dinheiro na carteira

110,00

Lojas Bem-me-quer a pagar

400,00

Banco conta corrente

1.100,00

Plano de saúde a pagar

430,00

Salário a receber

5.000,00

Escolas a pagar

1.200,00

Automóvel

20.000,00

Loja Tem Tudo a pagar

500,00

Casa residencial

80.000,00

Cartão de crédito a pagar

650,00

Patrimônio Líquido

103.030,00

TOTAL DO ATIVO

106.210,00

TOTAL DO PASSIVO

106.210,00

            Voltando para o Balanço acima, vamos dar o nome de CONTAS  a todos os componentes que ali estão registrados. (Conta Dinheiro, Conta Salários a receber, Conta Automóvel, Conta Escolas a pagar, etc.)

            Se o dono da situação acima resolver sacar R$- 500,00 do saldo que tem no Banco, a Conta Banco c/corrente dele no Balanço passará de R$- 1.100,00 para R$- 600,00.

            Poderíamos dizer que foi só isso que aconteceu?

            Claro que não, pois a carteira dele ficou mais “gorda”, ou melhor, ele passou a ter mais R$- 500,00.  Com isso a Conta Dinheiro na carteira  do Balanço passou de R$- 110,00  para R$- 610,00.

            Frisando: a conta do Banco conta corrente passou de R$- 1.100,00 para R$- 600,00 e a conta dinheiro na carteira passou de R$- 110,00 para R$- 610,00.

            Se ele pagar os R$- 400,00 que deve as Lojas Bem-me-quer,  essa dívida (passivo – coisa ruim) não mais existirá no seu Balanço, mas o dinheiro utilizado para esse pagamento não caiu do céu. Para isso ele utilizou-se  de parte dos R$- 500,00 que acabou  de sacar.

            Frisando: A conta das Lojas Bem-me-quer a pagar passou de R$- 400,00 para zero e a Conta Dinheiro na carteira passou, agora,  de R$- 610,00 para R$- 210,00.   

            Bom, eu acho que vocês já entenderam. Eu estou querendo dizer a vocês que SEMPRE que mexermos em uma CONTA, automaticamente teremos o reflexo em outra CONTA.  A isso damos o nome de Método das Partidas Dobradas. Simples, não é gente? 

            Esse “mexermos” que falei seria, em linguagem mais formal, o registro dos fatos ocorridos. E para se fazer o registro de todos os fatos que ocorrem na situação patrimonial de uma empresa, é necessário utilizar-se da técnica do LANÇAMENTO, que é o meio pelo qual se processa a escrituração desses registros. 

            Para se fazer o LANÇAMENTO é necessário conhecer os seus elementos, que são: 

1º - Local e Data

2º - Conta a ser debitada

3º - Conta a ser creditada

4º - Histórico e Valor

             Vamos nos ater apenas nos elementos 2º e 3º, pois estes requerem  um pouco mais de atenção, pois é fundamental que o iniciante entenda  o porque de ora debitar e ora creditar.

            Nós sabemos que o ATIVO (lado esquerdo - coisas boas) é composto por Bens e Direitos e o PASSIVO (lado direito – coisas ruins) é composto pelas obrigações juntamente com o patrimônio líquido.  Sendo, como a gente já vem frisando bastante, um positivo (ATIVO) e um negativo (PASSIVO), portanto um é o oposto do outro. Por isso na hora de fazermos os lançamentos precisamos distinguir através de um sinal o que é ATIVO e o que é PASSIVO.  Para isso a CONTABILIDADE CONVENCIONOU que a movimentação de seus componentes (CONTAS) será efetuada através de lançamentos de DÉBITOS e CRÉDITOS e que os componentes do ATIVO (coisas boas) terão sempre SALDOS DEVEDORES e os componentes  do PASSIVO (coisas ruins + PL) terão sempre SALDOS CREDORES.

            Nós estamos, vamos dizer assim, em uma sala de aula virtual. Isso é bom?  Não resta dúvida que é ótimo. Pois podemos estudar no momento que for mais conveniente, não precisamos ficar escrevendo, e podemos rever a matéria por diversas vezes. O único problema é que falta aquele “pentelho” que adora fazer perguntas, pois algumas dessas perguntas acabam sendo oportunas. Nós aqui temos o “Alguém”.   Lembram-se dele: “Se o lado direito (passivo) é de coisas ruins, porque que o meu lucro ou capital será colocado deste lado?????????”. Lembraram?

            Pois é, o “Alguém” quer fazer outra pergunta: 

            Ei, João, essa pergunta que você reprisou ai, eu entendi. Mas agora eu acho que a coisa complicou. Você está dizendo, se é que eu entendi direito, que os componentes do ATIVO (coisas boas) terão sempre SALDOS DEVEDORES e os componentes do PASSIVO (coisas ruins + patrimônio líquido) terão sempre SALDOS CREDORES. Como é que você quer que eu entenda que as minhas coisas boas tenham saldos devedores? Acho que você endoidou. 

            Tem sentido o questionamento, pois o significado da palavra débito no dicionário é dívida, por isso que os iniciantes nesta matéria acabam se confundindo. Mas eu vou pedir para vocês esquecerem esse conceito do dicionário. Pois eu acabei de dizer logo mais acima que os nomes de DÉBITOS e CRÉDITOS  foram determinados por uma convenção contábil, portanto na contabilidade essas duas palavras (débito e crédito) não têm o mesmo sentido que na linguagem comum. O importante é vocês gravarem que as Contas do ATIVO (coisas boas) terão sempre saldos devedores (mera convenção) e as Contas do PASSIVO (coisas ruins) terão sempre saldos credores (mera convenção). 

            Vou aproveitar e já colocar mais uma situação que também confunde esses conceitos. Quando uma pessoa fica com sua conta bancária “estourada” no cheque especial, o saldo aparece no extrato com a letra “D” logo após o saldo negativo. Ai ela diz que está devedora no Banco. De fato ela deve ao Banco, mas essa letra “D” no extrato, especificamente,  não quer dizer “d” de devedora no sentido de dívida, e sim que é um direito do Banco, portanto, está no ATIVO do Banco, e por convenção contábil tem saldo devedor. Já na contabilidade dessa pessoa, apareceria no PASSIVO, pois é uma dívida, e por convenção contábil teria saldo credor.

            Vocês não podem confundir as coisas, pois quando efetuamos as transações  contábeis, os sinais não podem ser os mesmos para as partes envolvidas, pois quando um paga é porque o outro está recebendo, quando um vende é porque o outro está comprando. As transações trarão sempre direitos para uns e obrigações para outros e vice-versa. 

            Em linhas gerais, para finalizar esse capítulo, ficou claro que os fatos contábeis são registrados em Contas, através do lançamento, e que sempre que  alterarmos uma conta, automaticamente será alterada uma outra, pelo mesmo valor. Essas contas serão movimentadas sempre com débitos e créditos (nomes esses definidos por mera convenção contábil), e no ATIVO constarão os Bens e Direitos que terão sempre saldos devedores e no PASSIVO constarão as Dívidas e o Patrimônio Líquido e terão sempre  saldos credores. 

Este capítulo foi disponibilizado, originalmente, em 08/06/2001

 

REPAGINADA EM 11/12/2008

 

 

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